Produção e Processo Criativo

Falar sobre criatividade é um dos meus assuntos favoritos.

Escuto muitas pessoas falando que sou criativa, mas eu nunca conseguia ver essa criatividade em mim, então comecei a tentar buscar livros e cursos para desenvolver essa “habilidade” de alguma forma.  Quando você começa a buscar formas de treinar essa habilidade (que qualquer pessoa é capaz de desenvolver), a primeira mudança acontece no olhar para as coisas, tudo que você vê no seu cotidiano, seja dentro de casa, no caminho para o trabalho ou até mesmo nas telas ou livros começa a ter significado e importância diferente.

Quando Austin Kleon em seu livro “Roube como um artista”, sintetiza que hoje em dia ninguém teria ideias 100% originais, o primeiro pensamento que me vem à cabeça é aquela famosa frase de que “nada se cria, tudo se copia ou se transforma”. E por mais que isso pareça muito triste, é a verdade nua e crua.

O que muda então?

As experiências e zonas de interesses de cada pessoa. Por exemplo, se você começar a se interessar por fotografia, pegue seu filme favorito, assista novamente e repare que alguém pensou na fotografia dele. Possivelmente ele terá uma cartela de cor, elementos de composição, objetos de decoração, além de figurino e iluminação que irão compor aquela imagem.  São tantas coisas que provavelmente você conseguirá encontrar alguns pequenos erros nas cenas.

Após um período, se você começar a se interessar por música e assistir mais uma vez seu filme favorito, vai prestar atenção na trilha sonora e saberá que alguém pensou em cada uma das músicas para emocionar, assustar, tranquilizar, etc. Vai reparar o bit da música, vai conhecer muitas regravações de clássicos e talvez até conhecer bandas e cantores que você nunca ouviu falar. Agora, digamos que você comece a se interessar por moda… Ao assistir  pela terceira vez o filme com esse novo olhar, você irá se prender no figurino novamente, mas com uma visão completamente diferente da primeira, vai começar a fazer um link histórico, pensará  se aquele figurino é condizente com a época que o filme retrata e adivinha? Alguém também pensou nisso tudo.

A partir da mudança no olhar você transforma o que vê e acrescenta o que já viu dentro do que se propõe a criar. Geralmente ajustando para as necessidades.

No início do ano participei de um workshop sobre processo criativo e desenvolvimento de coleção com a designer Bella Vasconcelos. Lá tivemos várias atividades durante o dia e fizemos um intervalo para o almoço. Nesse intervalo fizemos uma caminhada até um restaurante próximo, no caminho uma borboleta cruzou na minha frente e pousou em um arbusto verde abrindo as asas que eram azuis com preto. Poderia ser só uma imagem aleatória do dia a dia, mas, coincidentemente ao retornar para a sala, a Bella orientou que desenvolvêssemos uma minicoleção com a temática borboleta.

No primeiro passo tínhamos que fechar os olhos e lembrar da última vez que vimos uma borboleta (incrivelmente tive a sorte de ter visto poucos minutos antes), em seguida, tínhamos que buscar na internet imagens para montar um modboard (ou painel de inspiração) e daí desenhar ao menos uma peça  e falar sobre o que ela significava.

Minha criação foi uma peça transparente de tule com composições em flores e algumas borboletas, e a explicação dessa criação foi o fato de ter visto uma única borboleta voando sozinha no meio da cidade posando em uma única coisa verde em meio as construções. Essa cena me trouxe o sentimento de como nós ocupamos um espaço na cidade compartilhando e talvez nem observando as demais vidas que existem ao redor. A ideia da transparência da peça teve o objetivo de mostrar o corpo e a roupa como uma coisa que se conecta e viram um só, assim como nós dentro do espaço que vivemos. As tonalidades escolhidas foram: verde, azul e preto (as cores da cena que vi quando a borboleta abriu as asas no arbusto).

Eu quis contar essa história para mostrar como qualquer coisa pode ser uma fonte de inspiração. Obviamente existem milhares de peças que já foram criadas a partir dos mesmos materiais e cores, mas aquela peça que desenvolvi naquele momento teve um contexto por trás. E assim são todas as coisas, tudo que é criado vem de uma inspiração misturado com sentimentos pessoais de quem cria, e é assim que trabalhamos no desenvolvimento das nossas coleções aqui na Origens, em processos que hora são individuais, mas em sua maioria são coletivos e colaborativos com outros setores.

Matéria escrita por: Shirley Guimarães – Produção

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3 Comments

  1. Gabrielly Faria Santos Concecio
    9 de junho de 2020
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    Tudo p mim!!!!

  2. Silvia ferrari
    9 de junho de 2020
    Reply

    Linda demais!!! Vc e tudo q faz 👏🏻👏🏻❤️

  3. Yasmim Bolzan
    10 de junho de 2020
    Reply

    Adorei, shirley! 🦋👏🏻

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